Dormindo com o Inimigo Sao 80m todo em livre. Um 6sup acessivel. Protecoes em movel, na maior agulha do setor. Por Claudio Bridi e Js em Maio de 2001.    

 Local: Conjunto Medio do Cannyon Mallakkof em Nova Petropolis, Linha Brasil Fundos
 Via: Dormindo com o Inimigo  6Sup  Cordadas: 3 cordadas
 Material: Um hack bem amplo de materiais. 1 jogo de Friends  0.5 ao 4.5, nuts medios, 1 peca grande tricam 11 ou camalot 4.5


Cama do bridi. Pernoite a 60m.

Foi no sabado, dia 19 e 20 de maio de 2001, 7:00am,  caminhavamos em direcao a agulha.

 Muitas vezes na volta de outras escaladas, parava  e ficava contemplando a agulha, e agora estamos carregados de equipamentos em direção a base da via, numa trilha ruim e esquecida.

A idéia desta conquista, alem de chegar na ponta da agulha, era treinar uma escalada limitada, simulando uma bigwall. Mochilas cheias, muitos equipamentos moveis e material para pernoite.

Eram 8:30 quando chegamos na base. Muito mato, algumas vespas e mais uma escalaminhada leva a o inicio da via. 

Nesta parada esta uma chapelete e voce pode proteger com dois friends #1 para equalizar.

Abrindo mato, derrubando pedras, varias vespas e algumas aranhas. 

Sujeira demais da conta. 

Foram 6 horas de escalada para terminarmos a primeira enfiada. Totalmente em livre, protegendo com moveis. Muitas pecas e fendas perfeitas. Na primeira cordada usamos apenas uma chapeleta para parada e hauling do material de pernoite.

Continuamos mais um pouco e chegamos ao encontro da agulha com  a parede, havia uma pequena pedra "empotrada", que servia de base para a cozinha apenas. Mais duas arvores "borrachudas" que serviram de ancoragem para a rede... a noite comecava a cair. e precisava preparar tudo.

Equalizei a rede nas arvores e em quatro friends distribuidos.. duas auto-seguranca.. pronto.. fiquei tomando um cafe.. esperando o sono bater. Mas isto eram apenas 6:00 da tarde, eu tava morto e já estava escuro, nao usei o headlamp (lanterna) até as 20h, GRANDE ERRO!!!

Linha da via escalada pelos montanhistas.

Quando liguei o headlamps pela primeira vez reparei num amiguinho peludo e cheio de patas... uma arranha grande... putz... menos de 1m do meu travesseiro.. e nao era caranguejeira. Eu nao conhecia aquela especie.. assoprei.. afugentei o bixo.. mas havia mais 4!!!!! ao redor.. putz a noite seria de PANICO NA ZONA SUL!.. tudo menos arranhas.. poderiam ser cobras, barbeiros.. sei lah... arranhas NAO!!!! 

No melhor estilo Bruxa de Blair, C.Bridi se prepara para uma noite aracnofobica.. neste momente ele, eu ainda nao conhecia elas.

Ponto mais alto da agulha. Tamanho de uma caixa de sapatos. Pernoite feita logo abaixo, junta as arvores, raizes visiveis.

Tudo bem, comecei a mentalizar o lado possitivo da coisa, na epoca eu estava criando uma carranguejeira em casa,  morticia, para ir trabalhando o psicologico... lembrei q elas nao me atacariam, no maximo um passeio... e no fim da noite, elas iriam emboda...pedi protecao a Santa Rita de Cassia. Parecia que a noite seria cada vez pior,  quando as baratas da pedra começaram a brotar das fendas, mas tudo bem, apenas baratas. Assim a noite foi.. dormindo com um olho aberto e dormindo com o inimigo.

Na manha seguinte escalamos a PONTA DA AGULHA! Se procurar no dicionario a palavra classica, vai encontrar agulhas lah. A passada em livre, nao tem como colocar protecoes moveis na agulha, entao passamos no solo, poucos metros de baixo risco.

A ponta da agulha é do tamanho de uma caixa de sapatos, passamos uma tubular ao redor dela para proteção, o ideial é subir um de cada vez, o lugar nao é muito confortavel para duas pessoas.

Voltando da agulha a base, da pernoite, segui em livre pelo diedro por mais alguns metros até alcancar uma fenda positiva. Segue entalando por ela até o cume. Algumas raizes crescem de dentro desta fenda, grandes, longas e atrapalham pra caralho a progressão.

A conquista levou 2 dias, a escalada tem duas enfiadas em livre, totalizando 80m, com apenas duas protecoes "fixas". Uma chapeleta no inicio e um Cassin (piton) no crux do espinho, o resto eh toda em movel, saindo da base a o cume. 

Entrando pela esquerda da parede (vista de frente), seguindo a trilha. Por ser uma parede pouco visitada, a trilha deve estar em pessimas condições. 

 

Claudio Bridi ao final da conquista.